«Um poema de Alberto Pimenta motiva sempre uma descida inesperada e irremediável dos níveis de previsibilidade e segurança. Porque todo o trabalho de Pimenta é risco e imoderação. A sua actuação é de uma permanente imponderabilidade. O poema, este poema, é uma imparável máquina produtora (e revolucionária) de sentidos. A fluidez com que avança o verso, sem quase quebras estróficas ou organizadoras, equivale ao modo contínuo como os temas se entrelaçam uns pelos outros. E nadase torna acumulação, pois do que se trata é de uma certa naturalidade, uma espécie de inevitabilidade. É o modo altamente orgânico como os elementos se conhecem como afins; esse tónus ilocalizável que possuem as palavras e os seus agrupamentos quando é a arte de Pimenta que os coliga. Mais do que combinatória, é uma arte mágica, porque não enjeita o que há de sortílego na criação. |
[…] O que, em Pimenta, mais impressiona é que a erudição nunca surge como um convidado inconveniente, uma excrescência — mas como aquilo que sempre lá devia ter estado, desde sempre, e para todos os efeitos.
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Neste poema épico, Alberto Pimenta revisita uma herança comum de iniquidades e desmandos, de violentos acessos dos deuses às coisas da humanidade, de guerras como as de Tróia, mais do que uma vez lembrada, de indignidades de agora que são de sempre.»
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Pensar depois no caminho é obra de um poeta profundamente sabedor de que “tudo se recombina” (A Magia Que Tira os Pecados do Mundo) e que a função da poesia é “ampliar o mundo/ não/ reduzi-lo ao tamanho de cromos” (De Nada, Boca, 2010). Um poeta que faz conviver, através de uma forma poética declaradamente exigente, as mais desavindas proveniências, que confluem na personagem colectiva que é a humanidade.»
— Hugo Pinto Santos, sobre PENSAR DEPOIS NO CAMINHO de ALBERTO PIMENTA, no suplemento Ípsilon, Jornal Público, 17.8.2018
https://www.publico.pt/2018/08/23/culturaipsilon/critica/a-epica-do-presente-continuo-1840896